terça-feira, 17 de abril de 2012

Manual de Remédios Caseiros Infantis
Suzana Lakatos e Carolina Prado
                Por mais que a medicina e a ciência evoluam, muitas receitinhas domésticas para aliviar todo tipo de incô­modo do bebê resistem ao tempo. O motivo é muito simples: até os médicos concordam que funcionam canja de galinha, papa de arroz, fiapinho úmido para conter soluço e outros remedinhos que nossas avós usavam competem em pé de igualdade - e até com superioridade - com algumas das avançadas fórmulas que lotam as prateleiras das farmácias. A maior vantagem é a de apresentar efeitos colaterais bem suaves, enquanto os medicamentos industrializa­dos, dependendo do caso, podem provocar reações adversas. Criados intuitivamente, muitos desses remédios caseiros utilizam com sabedoria as propriedades benéficas de alimentos e plantas - hoje reconhecidas pela ciência. Mas, acima de tudo, têm um ingrediente imbatível: o amor e a atenção dos pais. Muitas vezes, não é o chazinho que acalma a criança, mas, sim, o fato de ela se sentir alvo de carinho e atenção. Claro que, quan­do se trata da saúde do bebê, não se pode bobear. Não é o caso de ligar para o pediatra diante de qualquer crise de soluço, mas também não se deve ignorar que alguns incômodos, talvez sejam o primeiro sinal de um problema mais sério. Por isso, o pediatra que acompanha seu filho deve ser consultado sempre. Lembre-se de que os remédios caseiros fazem efeito justamente por não serem de todo inócuos - alguns, consumidos em excesso, podem causar alergias e intoxicações. Cuidado também com a conservação: por não conterem conservantes, são mais sujeitos a fungos e bactérias. Por isso, prepare as suas “poções” sempre em pequenas quantidades para uso rápido.
- Papinha de arroz para reidratar em caso de diarreia: Cozinhe o arroz como de costume, desligando o fogo antes que a água seque por completo.
Por que funciona: A papinha atua mais ou menos como o soro caseiro, feito à base de água, sal e açúcar. Também na papa entram sal e água. O açúcar fica por conta dos carboidratos do arroz.
Indicação: Para crianças que já se alimentam com papinhas salgadas, normalmente acima dos 6 meses.
Não há riscos
- Papinha ou suco de maçã contra diarreia: Para a papinha, basta raspar a polpa da fruta com uma colher e oferecê-la à criança. Para o suco, bata a fruta, sem casca e sem sementes, com água no liquidificador. Coe antes de servir.
Por que funciona: A maçã contém fibra solúvel e absorve água durante o trânsito intestinal. Com isso, no processo de digestão, ela se transforma em um gel pastoso, que deixa as fezes mais espessas e reduz a velo­cidade da evacuação.
Indicação: Para crianças que já se alimentam com sucos e papinhas doces, normalmente após os 6 meses.
Não há riscos.
- Água com açúcar para acalmar: Misture, em meio copo de água filtrada, uma colher de sobremesa de açúcar.
• Por que funciona: Em situações de stress, o organismo libera um hormônio, a adrenalina, que estimula o metabolismo e leva a um consumo maior da glicose - cuja taxa ficará reduzida no sangue. A água com açú­car repõe a glicose perdida, proporcionando uma sensação imediata de bem-estar.
Indicação: Para crianças que já se alimentam com sucos, normalmente acima dos 6 meses.
Riscos: O açúcar pode ficar depositado nos dentes da criança, aumentando o risco de cáries. Além disso, no primeiro ano, o ideal é que o bebê se habitue a consumir apenas o açúcar natural das frutas.
- Azeite para soltar o intestino: Entre 6 meses e 1 ano, basta uma colher de café. Para crianças acima de 1 ano, a dose é de uma colher de sobremesa de azeite.
Por que funciona: O óleo não é absorvido pelo intestino e funciona como lubrificante da mucosa intesti­nal.
Indicação: Para crianças que já se alimentam com papinhas, normalmente acima dos 6 meses.
Riscos: O uso prolongado do azeite pode impedir a absorção de nutrientes solúveis em água, como as vita­minas do complexo B, cuja deficiência causa irritações na pele e nas mucosas dos olhos e da boca.
- Gelo e faca sobre batidas para aliviar a dor e impedir a formação de manchas roxas e inchaços: Manda a tradição que se aplique uma compressa de gelo no local da batida. Outra opção é substituir a com­pressa por uma faca sem corte nem serra, pressionando-a levemente, por alguns minutos, contra o local afe­tado.
Por que funciona: É a temperatura do gelo e da faca que faz a diferença. Com a batida, ocorre um sangra­mento por baixo da pele, causador do popular galo. O frio provoca uma vasoconstrição, impedindo o sangue de se acumular na região.
Indicação: A partir do nascimento.
Não há riscos.
- Mel para aliviar a tosse e ajudar na expectoração: Funciona como xarope e pode ser misturado com folhas de guaco ou oferecido puro. Coloque uma colher de sopa de folhas de guaco, lavadas e picadas, em uma xícara de água fervente, abafando por cerca de dez minutos. Coe e adicione uma xícara de chá de açúcar cristal. Aqueça novamente, até dissolver o açúcar, e acrescente uma colher de sopa bem cheia de mel. Deixe esfriar e guarde em vidro esterilizado, seco e bem fechado. A indicação é de uma colher de chá de xarope duas vezes por dia.
Por que funciona: Os xaropes de mel são viscosos e sua textura ajuda a acalmar as mucosas, irritadas pelas crises de tosse. O açúcar e o mel proporcionam bem-estar, acalmando o bebê. E o guaco contém óleo volátil, resinas e cumarina, usados terapeuticamente como expectorante, antitussígeno (contra tosse) e bron­codilatador.• Indicação: A partir de 1 ano.
Riscos: O mel pode conter a toxina Clostridium botulinum, responsável pelo botulismo infantil. Normal­mente, ela é eliminada pela acidez do estômago, mas em bebês até 1 ano esse processo ainda é deficiente.
- Banho morno para baixar a febre: A água deve estar com temperatura em torno de 25 ºC. Outra opção é aplicar compressas embebidas também em água na mesma temperatura.
Por que funciona: A febre é resultado de um comando do cérebro, que faz o organismo aumentar a tempe­ratura corporal a fim de combater um agente estranho. Em contato com um meio externo mais frio, como a água, o organismo automaticamente regula a temperatura, fazendo a febre baixar.
Indicação: A partir do nascimento.
Riscos: O choque térmico ajuda a aplacar a febre, mas é preciso descobrir a causa das altas temperaturas.
- Massagens para aliviar a cólica: Basta friccionar o abdome do bebê, com movimentos circulares lentos, em sentido horário. O ideal é fazer a massagem com os dedos anular, médio e indicador, repetindo a manobra de 80 a 100 vezes.
Por que funciona: A massagem provoca um aquecimento local, que faz a musculatura relaxar. Como con­sequência, a dor dá uma trégua. A compressão leve do abdome também facilita a eliminação dos gases cau­sadores da cólica.
Indicação: A partir do nascimento.
Não há riscos.
- Colocar uma bolinha de algodão ou um pedaço de linha vermelha umedecidos no centro da testa do bebê para acalmar o soluço
Por que funciona: Soluços são frequentes em bebês até 3 meses porque o nervo responsável por essa reação ainda é muito sensível. A bolinha de algodão e a linha não possuem propriedades calmantes. Mas a atenção que os pais dispensam ao bebê no momento do ritual pode ser a razão da eficácia da simpatia. Para a medicina tradicional chinesa, há outra explicação: o centro da testa é a “porta da cabeça” e sua estimulação produz efeito calmante.
Indicação: A partir do nascimento.
Não há Riscos
- Ameixa-preta para soltar o intestino: Lave bem três ameixas e bata no liquidificador. Coe e ofereça uma colher de sobremesa ao bebê duas vezes por dia.
Por que funciona: A ameixa é rica em fibras, que estimulam os movimentos do intestino, favorecendo a evacuação.
Indicação: Para crianças acima dos 6 meses.
Não há riscos.
- Leite materno para tratar de conjuntivite em bebês: Duas ou três gotas podem ser aplicadas sobre a região afetada.
Por que funciona: O leite materno possui ação bactericida. Como esse efeito é bastante suave, o uso não acarreta alergias ou irritações.
Indicação: A partir do nascimento.
Não há riscos
- Alimentos cozidos em panelas de ferro para prevenir e tratar ane­mia: Cozinhe as papinhas, como de costume, em panelas feitas desse material.
Por que funciona: As panelas liberam pequena quantidade de ferro durante o preparo, o qual se transfere para os alimentos.
Indicação: Para crianças que já se alimentam com papinhas salgadas, normalmente acima dos 6 meses.
Riscos: Depois de preparada, a comida deve ser transferida para outro recipiente. Se permanecer na panela, a transferência de ferro pode ser muito grande e ocasionar diarréias, que comprometem a nutrição. Esse cui­dado não substitui o tratamento médico, especialmente quando a anemia está em grau avançado.
- Lenço umedecido em álcool (sem diluição em água) contra dor de garganta e tosse: Basta umedecer o lenço em uma mistura de um copo de água morna com uma tampinha de álcool e prendê-lo ao pescoço do bebê.
Por que funciona: O álcool aquece a região e provoca sensação de bem-estar.
Indicação: Para crianças acima de 1 ano e meio, sob supervisão atenta dos pais.
Riscos: O álcool, quando concentrado, pode causar intoxicação, pela aspiração, e queimaduras na pele. Fique atenta ainda ao perigo de sufocamento.
- Compressas com pano morno para aliviar dor de ouvido: Basta aquecer uma fraldinha de pano limpa com o ferro de passar. O tecido morno, a uma temperatura bem confortável, deve ser aproximado da orelha do bebê.
Por que funciona: O calor provoca vasodilatação e relaxa a musculatura da região, aliviando a dor.
Indicação: A partir do nascimento.
Riscos: Não aqueça demais a fralda. Teste primeiro em você.
- Chá de camomila para tratar a prisão de ventre: Coloque um saquinho de chá em uma xícara de água fervente e deixe abafado por cerca de dez minutos. Be­bês devem tomar meia xícara de chá duas vezes por dia.
Por que funciona: A camomila contém compostos que funcionam como antiespasmódicos, aliviando a dor de barriga.
Indicação: Para crianças liberadas pelo pediatra para o consumo de outros líquidos além do leite materno.
Não há Riscos
- Vinagre diluído para aliviar a coceira de picadas de inseto: Misture uma colher de chá de vinagre em três colheres de chá de água filtrada.
Por que funciona: O vinagre contém ácido acético, um poderoso anti-séptico.
Indicação: A partir de 1 ano.
Riscos: A criança pode ser sensível a algum componente do vinagre, o que lhe causaria coceiras e irritação.
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Consultoria Renata Waksman, pediatra do Hospital Albert Einstein e presidente do Departamento de Segu­rança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria; Luiz Cervone, pediatra e coorde­nador clínico do Hospital e Maternidade So Luiz; Késia Diego Quintaes, nutricionista e professora do curso técnico de Nutriço e Dietética do Senac/SP; Fábio Antoniazzi Arnoni, fisioterapeuta e docente do Senac/SP; Andrea de Andrade Ruggiero, professora de Farmacotécnica e Farmacognosia da Faculdade de Medicina do ABC.
Extraído da  publicação Casa Claudia Bebê